Wednesday, November 30, 2005


Mesmo não sendo um grande apreciador da poesia ultra-romântica, é impossível não ceder a um texto sublime como este:

Este inferno de amar- como eu amo!
Quem mo pôs aqui na alma...quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida- e que a vida destrói-
Como é que se veio a atear,
Quando- ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que antes vivi
Era um sonho talvez...-foi um sonho-
Em que paz tão serena a dormi!
Oh que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei...dava o sol com tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garrett

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