carpe diem
Há a violência de sermos, a flagrância absurda de existirmos, de nos morar o necessário e o eterno; e há a evidência igual de se ser um acaso sem importância- tão sem importância, tão incrivelmente nulidade, como o que recobre agora o silêncio dos milénios. Resignação- é o pouco que é o tudo que nos sobra. Tudo se cumpre num corpo. Aí moramos , aí somos- nós e o milagre excessivo. Inútil que chamemos pelos deuses. São a nossa interrogação e a interrogação nada responde. Erguido facho para o espaço da noite, aí é e se perde. És esse facho. E não lhe sonhes um destino. O seu destino é ser. Voz de doido para o deserto. Voz pura. Inteira. Nenhum eco a sabe. Esgota-se em si mesma, nem nós quase a ouvimos. Porque a falamos, a dizemos apenas, apenas a fazemos vibrar. Os ouvidos mal a ouvem, porque são nós só a existir. Quando soubermos que ao facho nada o reflecte, que à voz nada a ecoa, então começaremos a entrevista com a vida. Inutilidade a mais útil, fulgurância a mais noite, clamorosa voz a mais silêncio. Isso és e disso tens de decidir. Nada mais, nada mais. Nem te iludas com o futuro e a continuidade dos homens e o mais que quiseres. A continuidade será finda, os homens não serão. Um dia. Daqui a milénios. Mas o tempo futuro é tão longo como o tempo que já passou...
Vergílio Ferreira
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