Monday, June 18, 2007

Escrever a realidade




Magritte La condition humaine



Chegar à janela e olhar o céu. Ver só o que cabe no rectângulo dela, limitado e instantâneo. E ficar perturbado por essa rápida aparição da beleza que se não sabe dizer. Há um azul intenso e profundo e a um dos lados o amontoado de uma nuvem branca, iluminada de sol. Como transmitir esta revelação? Quantas formas de a dizer e todas serem uma ficção do que lá está. Há uma outra coisa dessa coisa e tudo são formas fictícias de a dizer. É um céu azul e uma nuvem branca a um canto da janela. Mas o que isso foi no seu aparecer, para sempre se perdeu.

Vergílio Ferreira

É realmente angustiante a intangibilidade do real, enquanto o é em si. Como agarrá-lo com ambas as mãos e pô-lo no papel? Que limitada a nossa bacia semântica, que colhe rios de signos, significantes e significados desde a mitologia mais primeva, mas pouco ou nada consegue significar.

Thursday, June 14, 2007

The room


Este é um disco perfeito. As treze faixas são exactamente como habitações de uma casa: distintas, contíguas e complementam-se, já que os títulos sugerem uma viagem por espaços únicos de uma única peça (musical). E, no entanto, o todo é mais que a soma das partes. Um trabalho que tem a força de uma presença fantasmagórica, do incontornável Harold Budd, que mais parece um arquitecto de pequenos espaços, explorando o eco e o silêncio com uma música minimalista perfeita que nos embala.
Esta é frase que ele escolheu para este magnífico trabalho:
Still I stand here, still I breathe,
still I shake in fear, still I laugh
and kiss a lover's eyes
while she holds my hand. I eat and burn
and crawl
through Dreams.
Michael McClure