Wednesday, November 30, 2005


Mesmo não sendo um grande apreciador da poesia ultra-romântica, é impossível não ceder a um texto sublime como este:

Este inferno de amar- como eu amo!
Quem mo pôs aqui na alma...quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida- e que a vida destrói-
Como é que se veio a atear,
Quando- ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que antes vivi
Era um sonho talvez...-foi um sonho-
Em que paz tão serena a dormi!
Oh que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei...dava o sol com tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garrett

Amor


O amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer.

Eça de Queiroz


Existem dias em que nada faz sentido, acho que hoje foi um deles (mais um). Parece -me que os esteios da realidade facilmente se desmoronariam com um leve sopro, se fosse deificado. Ainda bem que posso partilhar isto com alguém:

Ninguém conhece que coisa quer
Ninguém conhece a alma que tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro
Tudo é disperso, nada é inteiro.

Fernando Pessoa

Tuesday, November 29, 2005

O texto eterno...


Deus patenteia as suas vontades aos homens por meio dos acontecimentos, texto obscuro escrito numa língua misteriosa. Os homens tentam logo traduzi-lo, mas só conseguem fazer traduções enfezadas, incorrectas, pejadas de contra-sensos, abundantes de erros e lacunas. Poucos espíritos aditou Deus com o condão de compreenderem a língua divina. Os mais ricos de perspicácia, serenidade e profundeza só vagarosamente vão decifrando o sentido das dificuldades do texto e quando vêm a lume com o fruto das suas elucubrações, vinte traduções pejam há muito a praça pública. De cada tradução nasce um partido e uma fracção de cada contra-senso. E cada partido julga ser o único que possui o texto genuíno e cada facção se supõe a iluminada da divina luz.
Victor Hugo

Esperar pelo Céu??




El hombre nunca sabe para quién padece y espera. Padece y espera y trabaja para gentes que nunca conocerá, y que a su vez padecerán y esperarán y trabajarán para otros que tampoco serán felices, pues el hombre ansía siempre una felicidad situada más allá de la porción que le es otorgada. Pero la grandeza del hombre está precisamente em querer mejorar lo que es. En imponerse Tareas. En el Reino de los Cielos no hay grandeza que conquistar, puesto que allá todo es jerarquía establecida, incógnita despejada, existir sin término, imposibilidad de sacrificio, reposo y deleite. Por ello, agobiado de penas y de Tareas, hermoso dentro de su miseria, capaz de amar em medio de las plagas, el hombre sólo puede hallar su grandeza, su máxima medida en el Reino de este Mundo.
Alejo Carpentier

Para quando se está só


Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E, por isso, não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

John Donne

Francisco Umbral


Hoje terminei o livro Mortal y rosa de Francisco Umbral, que achei um livro interessante. Sempre gostei de novelas líricas, ou não fosse Para sempre, de Vergílio Ferreira, um dos melhores livros de sempre nessa tradição. No entanto, o livro de Umbral peca por uma acutilância excessiva nas palavras, por vezes, até, artificial. Tem algumas metáforas bem conseguidas, do género visceral, e a roçar o escatológico, por vezes. O que apreciei, em particular, foi a estrutura completamente atípica do romance, em que o fio narrativo é conduzido pela invocação contínua de sonhos e recordações, paixões e tristezas- estas dominantes, já que a morte de um filho é o acontecimento chave da história. Já não gostei da apologia da primazia do poeta sobre o romancista, ideia defendida ao longo de todo o texto- poeta como "filtro" perfeito dos sentimentos em direcção ao papel-, pois é o próprio Umbral a afirmar no princípio do livro que só conseguiu suportar a vida, porque a viveu intensamente na literatura, como um todo. Mas, o eterno chavão de que uma pessoa recupera a infância perdida para sempre à medida que vê um filho a crescer continua válido e, mais que tudo isso, toca-me profundamente.

Monday, November 28, 2005

Só um idiota quer conhecer algo


When we have knowledge, don't we loose everything but knowledge? If I know about the flower, don't I loose the flower and have only the knowledge? Aren't we exchanging the substance for the shadow, aren't we forfeiting life for this dead quality of knowledge? And what does it mean to me, after all? What does all this mean to me? It means nothing!

D. H. Lawrence

Utopias


Um mapa do mundo que não inclua a utopia nem sequer merece um olhar, pois ignora o único condado em que a Humanidade atraca sempre antes de içar as velas em nome de uma terra ainda melhor

Oscar Wilde

A violência



A violência pode ser expressão de amor, a indiferença nunca. Uma é a imperfeição da caridade, a outra a perfeição do egoísmo.

Graham Greene

Sobre os tumultos em França

Pensar para quê?


Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
mas porque a amo e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência
E a única inocência não pensar...

Fernando Pessoa

O problema


Não há problema senão o da realidade, e esse é insolúvel e vivo

Fernando Pessoa

O inferno


O inferno são as outras pessoas

Sartre

O tempo


O tempo vem do futuro, que ainda não existe, para o presente, que não tem existência, e some-se no passado, que deixou de existir

Santo Agostinho